A goma laca é uma resina secretada por um inseto chamado kerria laca, resultante da digestão da seiva da árvore. É tão versátil que pode ser utilizada por diversos segmentos industriais, desde vernizes para madeira até como revestimento de medicamentos. Neste artigo, abordarei seu uso como verniz de instrumentos musicais. É um tópico bastante polêmico, pois alguns músicos mais conservadores, particularmente os do violão clássico, acreditam ser o único verniz aceitável em um violão de concerto, o que eu particularmente discordo.

Como todo acabamento, a goma laca possui vantagens e desvantagens. A escolha do verniz deve atender a necessidade do músico e ao propósito do projeto. Dessa forma, considero vantagem o fato dela formar uma camada extremamente fina na madeira, protegendo-a razoavelmente da umidade. Também permite a ocorrência de vibração e transmissão sonora de forma mais natural possível. Com relação ao aspecto, ela deixa um brilho mais orgânico, principalmente se for aplicada na forma de polimento francês, ao contrário do poliuretano que deixa um brilho bastante intenso. Mas isso é uma questão de preferência estética, uma vez que o aspecto por si só não altera o som do instrumento. Isso resulta das propriedades mecânicas do verniz.

As desvantagens da goma laca resultam de suas vantagens. Por formar uma camada muito fina e elástica, confere baixa proteção mecânica (ex. contra marcas de unhas ou pequenas pancadas) e química (ex. contra manchas causadas pelo suor). É recomendável levar seu instrumento periodicamente ao luthier para manutenção do verniz ao sinal de desgaste.

A aplicação pelo método tradicional (polimento francês) é demorado e requer paciência, mas gera os melhores resultados estéticos. A quantidade aplicada varia de acordo com o projeto. Alguns clientes preferem os poros mais fechados enquanto outros fazem questão dos poros abertos. Cabe esclarecer que o nível de proteção deste último é menor, porém é tradicionalmente mais aceito nos violões de concerto.

Existem diversos tipos de goma laca, e essas podem ser primariamente classificadas pela presença ou ausência das ceras naturais do produto bruto. A escolha de qual usar depende do resultado que se busca. Ambas produzem excelentes acabamentos e interferem o mínimo possível no som do instrumento. Não acredito que, no quesito sonoridade, exista superioridade de alguma em função da cera. Também não encontrei referências que me dissessem o contrário.

Goma laca com cera (waxed)

Se a goma laca for utilizada como verniz único, a versão com cera deixa o acabamento menos translúcido que a sem cera. Além disso, a presença de ceras pode diminuir a resistência à água. Não é recomendado seu uso como seladora, visto que a presença de ceras diminui a adesão de outros vernizes por cima.

Goma laca sem cera (dewaxed)

A versão sem cera produz acabamento mais translúcido e mais resistente a água que a versão com cera. É uma excelente seladora, principalmente quando usada com pedra pomes em pó. Essa mistura penetra bem nos poros da madeira e os cobre de maneira bastante natural. Além disso, permite a adesão de muitos vernizes sintéticos para o acabamento final, como o poliuretano.

Também é possível encontrar goma laca em diferentes graduações de cores, desde o amarelado bem claro (conhecida como platina) ao marrom muito escuro (conhecida como garnet). Ambas podem se apresentar com ou sem ceras, diferindo apenas na aparência.

Diante de tantas características, entre em contato comigo para decidirmos o acabamento do seu instrumento! Há também a possibilidade de combinar vernizes sintéticos no corpo e deixar apenas o tampo com goma laca. Quando disse que discordava que ela seria o único verniz aceitável em violões de concerto, é por que tive excelentes resultados com uma camada bem fina de poliuretano usando a goma laca como seladora. Mas não dá aquele brilho, aquela cor…